Cidadania
e participação jovem, qual o papel das novas tecnologias?
As novas tecnologias proporcionaram uma
verdadeira revolução na sociedade, possibilitaram ações antes inimagináveis,
melhoraram a qualidade de vida das pessoas, permitiram uma participação ativa
por parte dos jovens e contribuíram para a formação de pessoas responsáveis,
autónomas e solidárias que respeitam os outros, mas que também conhecem e
exercem os seus direitos e deveres com espírito democrático, pluralista e
crítico.
Mas
nem todos reconhecem que as novas tecnologias têm esta capacidade de melhorar o
mundo. Independentemente da altura em que surgiram ou da sua funcionalidade, sempre
foram um assunto polémico. Quando surgiu o micro-ondas presumia-se que causava
cancro. Acreditava-se que o telemóvel causava surdez e que os jogos tornavam as
crianças mais violentas. Hoje, discutem-se as consequências nos jovens do uso excessivo dos telemóveis, dos iPad,
das redes sociais, dos robôs, das Smart Houses e de tantas outras
invenções.
Todos os
que nasceram entre 1995 e 2010, jovens pertencentes à geração Z,
receberam o seu primeiro telemóvel aos 10 anos. Esta é a primeira geração que
cresceu com a internet e a última cujas fotos de criança foram tiradas em
câmaras analógicas. As crianças desta geração receberam uma educação assente na
comunicação e no uso e num consumo sem igual de meios tecnológicos.
A
geração Z, ao contrário das anteriores, tem acesso às redes sociais e vê-as como um
instrumento e uma plataforma com enorme potencialidade, que lhes permite
exprimir as suas opiniões e ideias, alcançando grande visibilidade e
reconhecimento. Sabe que são também uma forma de autodescoberta e de construção de identidade, porque
permitem que cada jovem perceba os seus interesses e opiniões individuais, ao
aceder a tão variados interesses e opiniões.
E sabe também que não necessita de multiplicar
grandes estratégias para conseguir a atenção de milhares de pessoas. Basta
fazer um tweet. Porque esta plataforma de self brand dá a
oportunidade de construção de uma carreira, não só de influencers
digitais, mas também de modelo, de músico, de comediante, de atleta, etc. E é uma nova e excelente forma de
os jovens se manifestarem em todas as
áreas: política, economia, sociedade, cultura, desporto, etc.
A
geração X, a dos jovens adolescentes
que nasceram entre 1965 e 1980, para se fazer ouvir em termos de cidadania,
recorria aos jornais em papel, às rádios locais e raramente conseguia um
público alargado e de forma rápida. Para alcançar uma carreira musical,
provavelmente tinha de ter professores, investimento financeiro e toda uma
equipa a criar estratégias para ir à Eurovisão.
A
geração Z, por sua vez, tem acesso à educação e à expressão e
participação social, através de vídeos do Youtube. O cantor Shawn Mendes
começou com covers no Vine e atualmente é um dos mais famosos
cantores de pop.
Há
vários jovens que se destacaram pelas suas ideias revolucionárias, originando
grandes movimentos capazes de mudar a sociedade, sempre com o auxílio das redes
sociais.
Com
apenas 11 anos, Malala Yousafzai, escreveu e publicou online um diário anónimo
sobre a sua vida no Paquistão sob o regime Talibã. Com a ajuda da internet, a sua
ação social viralizou e rapidamente se tornou um sucesso. O seu maior objetivo
era demonstrar a importância de as meninas do seu país terem acesso à educação.
Devido à sua ousadia, foi alvejada na cabeça, o que não foi o suficiente para a
fazer calar e, em 2014, foi a pessoa mais jovem da história a ganhar o Prémio
Nobel da Paz.
Jack Andraka, com 15
anos, apenas com o auxílio de artigos científicos gratuitos na internet, criou
um teste capaz de detetar o cancro do pâncreas com apenas um sexto de gota de
sangue. Apesar de ser um teste ainda em estudo de viabilidade, especialistas
afirmam que é uma invenção interessante e revolucionária.
Graças às novas
tecnologias a expressão e a luta pelas suas ideias foram facilitadas.
A questão é: qual
seria o impacto de Martin Luther King Jr. ou de Rosa Parks se estes tivessem
existido na geração Z? Será que as redes sociais facilitariam a
luta pelos direitos civis dos negros?
Quantas pessoas das
gerações anteriores tinham ideias originais, um espírito divino, mas que
passaram despercebidas porque não tinham forma de chegar ao público?
Em
junho de 2020, milhares de adolescentes reuniram-se na aplicação TikTok,
registaram
centenas de milhares de lugares no comício de Donald Trump, durante a sua
campanha eleitoral, apesar de não terem qualquer intenção de comparecer. O
resultado? Um pavilhão com apenas um terço da lotação ocupada. Desta forma,
estes adolescentes, mesmo sem idade para votar, e no meio de uma pandemia,
uniram-se para demonstrar a sua oposição.
O site Change.org,
assenta numa plataforma onde qualquer um pode criar uma petição, e utilizando
apenas o seu e-mail pode assinar. Este site já existe desde 2007 e tem
legitimidade política. Alguns jovens conseguiram concretizar este ativismo social,
a partir dos seus sofás, graças às novas tecnologias. Sydney Helfand de
Maryland criou, em janeiro de 2019, uma petição contra a violência dos animais.
Nove meses e 800 000 assinaturas depois, este problema foi levado até ao
congresso, e o presidente Donald Trump assinou a lei de proteção contra a
tortura e crueldade sob os animais.
O mesmo aconteceu com
as hashtag, numa fase inicial, as hashtag eram utilizadas em prol
do algoritmo; contudo, nos últimos anos tornaram-se numa forma de organização
para grupos políticos e movimentos sociais. Foi o
caso do movimento Black Lives Matter, de oposição ao racismo: os seus
organizadores tomaram as redes sociais - especificamente a hashtag #BlackLivesMatter
– o que resultou numa peça fundamental da estratégia. Como resultado, o
crescimento do movimento offline esteve diretamente ligado ao online,
sendo esta a hashtag mais popular do Twitter.
Por
outro lado, as novas tecnologias são vistas, por muitos, como um perigo, pois
deram-nos plataformas em que nos pudéssemos expressar, mas, agregada a isso,
veio também a manipulação das ideias e dos bens materiais que consumimos. Os
jovens consomem, cada vez mais, o que os media oferecem, sem sentido
crítico.
As
redes sociais são também uma causa de ansiedade e de depressão e de alienação
em relação aos problemas da cidadania, consequências do tempo excessivo no Tik
Tok, a ver os highlights dos outros no Instagram, a sofrer a
toxicidade do Twitter e do cyberbullying.
As
gerações anteriores tinham as suas formas de entretenimento, mas um livro tem duzentas
páginas e acaba, a telenovela passa uma hora por dia e acaba e o jornal tem quarenta
páginas e acaba. Já a geração X tem conteúdo e tempo ilimitado de media
para consumir.
O bullying
sempre existiu, contudo, esta nova via dá a oportunidade ao bully de ser
anónimo, de estar protegido por um ecrã e de não sofrer as consequências pois
ainda não existem protocolos para sancionar esta questão. E já teve as suas
vítimas mortais, como Tyler Clementy que
se suicidou porque o seu colega de quarto publicou um vídeo seu a beijar um
rapaz, ou Rebecca Ann Sedwick, que não aguentou os comentários maliciosos e as ameaças
de morte dos seus colegas online.
Questionemo-nos:
o problema estará nas novas tecnologias ou na sociedade em si?
Na
realidade, estamos só a discutir sobre o lado menos bom das pessoas, o lado que
faz os assediadores assediarem, a insegurança que faz apagar a foto ou então, do bully
fazer bullying, das pessoas que não têm princípios, nem valores que as
impeçam de criar fake news e de manipular a informação para trair e
atrai os ingénuos.
As
redes sociais não são boas nem más, são só a ferramenta mais recente para fazer
o que sempre fizemos: contar histórias, comunicar e exercer a cidadania. A
culpa não é da televisão se o filme é mau, o Twitter não obriga as
pessoas a escreverem textos de ódio social.
A geração posterior à Z,
a Alfa, marcada
pelo lançamento do iPad da marca Apple, inclui todas as crianças nascidas entre
2010 a 2025, e é a primeira geração 100% digital, ou seja, desde a nascença teve
acesso a um telemóvel e a um iPad. Ou vai ser a geração mais inteligente,
conseguindo utilizar estes recursos de forma racional para o desenvolvimento e
bem-estar comum, superando todas as anteriores ou, pelo contrário, vai ser a
geração mais passiva.
Serão
os jovens da geração Alfa a dar resposta à polémica das novas tecnologias, pois terão um
papel crucial nesta nova era digital: e terão
de combater a falta de cidadania e de civismo com provas válidas e positivas,
porque, se não o fizerem, irão acentuar o fosso da indiferença social.
Mas tenhamos esperança,
uma vez que todas as suposições relativas às primeiras inovações
se revelaram erradas: o micro-ondas não causa cancro, o telemóvel não causa
surdez e os jogos não tornam as crianças mais violentas.
Maria Miguel Mota Cardoso, n.º 14, 11.º I
Vitoria Goyvanyuk, n.º 28, 11.º I
Escola Secundária de Domingos Sequeira - LEIRIA
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