quinta-feira, 5 de maio de 2022

2022 EUROSCOLA: As redes sociais e os perigos para a democracia

 

As redes sociais e os perigos para a democracia

Nos últimos anos, as novas tecnologias mudaram radicalmente a comunicação e o acesso à informação no mundo. Atualmente, as redes sociais online são o principal meio de comunicação e de expressão pública: quase todos os cidadãos se manifestam através delas, incluindo as mais importantes figuras da democracia dos nossos dias.

Uma rápida consulta a sites como o statista.com permite verificar que a maior parte dos adultos em muitos países afirma informar-se no seu quotidiano através destes novos media (gráfico 1) e que os media online se tornaram o principal palco para discussões e interações políticas e sociais. Além disso, por exemplo, verifica-se que, de 2017 a 2022, aumentou de 28 para 81, o número de países que usam os meios de comunicação social para divulgar propaganda e desinformação política (gráfico 2).

Urge, por isso, colocar uma questão fundamental: será que o conteúdo a que acedemos através das redes sociais e pelo qual nos guiamos é totalmente fiável?

A verdade é que cerca de 65% dos utilizadores das redes sociais (in statista.com) revelam que não consideram estes meios completamente fidedignos e está provado que o principal perigo das redes sociais é a quantidade de informação duvidosa que acaba por desinformar a sociedade.

E a questão seguinte é: quando e como começaram as redes sociais a integrar-se e a ter tanto impacto na democracia?

            A comunicação é um processo intrínseco nos seres humanos desde a pré-história, tendo passado por várias etapas e meios, desde as gravuras rupestres até à atual internet (imagem 1).

No final do século XX e no início do século XXI, as campanhas políticas começaram a possuir presença virtual, apesar de esta não ser significativa, uma vez que os media tradicionais, nomeadamente a rádio e a televisão, eram o ponto central de propaganda eleitoral. Mais recentemente, na segunda década do nosso século, os posicionamentos políticos, mesmo fora de períodos eleitorais, tornaram-se cada vez mais comuns nas redes sociais, aproximando a relação entre candidatos e a população.

Assim, os media online assumiram-se como um dos principais órgãos informadores da população, desempenhando um papel estrutural na maioria das faixas etárias.

E, por isso, devemos questionar-nos também: aliado a esta importância de instruir e conceder conhecimentos aos cidadãos, seguiu-se o dever de o fazer de forma correta?

Enquanto principal fonte de informação para os cidadãos, as redes sociais deveriam facultar toda a informação isenta e imparcial relativa à democracia e à política governamental. Porém, não é a isso que se tem assistido, já que cada vez mais os media digitais mostram aos seus utilizadores aquilo que se encontra alinhado com a visão pessoal de cada um, contribuindo, deste modo, para visões enviesadas e parciais acerca daquilo que são as questões políticas e estruturais da sociedade.

Esta bolha (imagem 2), designada por “microdirecionamento”, isola os cidadãos menos instruídos e com menos sentido crítico daquilo que é verdadeiramente a democracia, criando a ilusão de que as suas crenças são as únicas que existem ou as mais aceites no seio da sociedade. Tal acontece devido ao facto de que a grande maioria da informação apresentada reflete apenas aquilo que são os seus ideais, restringindo, deste modo, a possibilidade de reflexão e aceitação de outras ideologias.

As pessoas acabam por não ter todas acesso à mesma informação e podem estar a ser privadas de outra relevante. Esta bolha parece-se com um círculo: cada cidadão pesquisa conteúdos relativos às suas crenças e, com base nessas preferências anteriores, só lhe é apresentada a informação que mais se lhe adequa. Um algoritmo tendencioso e discriminatório que dificulta a distinção entre o conteúdo político e informativo.

As fake news e a propaganda política

As fake news começaram a ganhar relevância porque a informação prolifera-se rapidamente, sendo, ou não, verdadeira. Promover notícias sensacionalistas e mensagens políticas distorcidas não é um fenómeno novo. No entanto, obteve um novo, acessível e barato palco: as redes sociais.

As consequências deste fenómeno são nefastas para a democracia: para os defensores de ideias mais polémicas ou extremistas, o algoritmo acima referido é a sua principal arma, uma vez que manipula a informação e a mente das pessoas, criando e fomentando fraturas na sociedade e aniquilando a capacidade de diálogo.

Nos media tradicionais, a propaganda era transmitida em massa, pelo que era mais fácil desmantelar uma notícia tendenciosa. Atualmente, é comum e simples um partido passar uma mensagem para um grupo de eleitores e outra oposta para outro, de forma a captar votos.

Existem, além disso, diversos partidos, sobretudo de extrema-direita, que utilizam o populismo alicerçado em notícias falsas ou descontextualizadas para enganar as pessoas, e fazem-no, primordialmente, nas redes sociais.

Esta situação abrange a Europa. A força da candidata de extrema-direita Marine Le Pen (imagem 4), em França, foi conseguida através de campanhas de desinformação. A campanha do Brexit foi acusada de fraude e uso ilegal de dados no Facebook em seu benefício, ajudando a eleger Boris Johnson (imagem 5).

             O principal exemplo desta estratégia em Portugal é André Ventura, deputado da Assembleia da República pelo partido político Chega (imagem 6). Este não apresenta propostas concretas para o futuro do país, mas utiliza discursos de ódio e factos descontextualizados para, de forma simplificada, propagar notícias falaciosas e persuadir os mais desinformados e frágeis.

Porém, foi fora da Europa, com Donald Trump (imagem 7) e Jair Bolsonaro (imagem 8), que o termo fake news foi mais popularizado. Isto porque a informação falsa proliferou com mais alcance do que aquela cujo conteúdo era verdadeiro e contribuiu para campanhas de manipulação que permitiram a vitória destes dois candidatos nas suas respetivas eleições.

Os donos das redes sociais

Outra relevante questão prende-se com o facto de as redes sociais serem meios de comunicação e informação administrados por entidades que visam o lucro (imagem 3) e que  partilham e disponibilizam informação aos seus utilizadores para beneficiar alguém, para seu próprio interesse. Consequentemente, a sua imparcialidade apresenta lacunas claras e evidentes, identificáveis através dos sistemas de bolha, ou até mesmo pela ausência na interrupção da proliferação das fake news que apresentam maior impacto.

Medidas implementadas contra os perigos das redes sociais para a democracia

Todos os países da União Europeia veem como um problema as fake news e a informação que distorce a realidade ou é falsa (gráfico 3).

Até 2019, a ação da União Europeia contra os perigos da divulgação de fake news e contra os impactos negativos das redes sociais na democracia restringiu-se à elaboração de um código de conduta e de algumas campanhas de sensibilização; porém, e face ao alastramento e agravamento do problema, viu-se obrigada a desenvolver planos de ação mais estruturados e sustentados e, até, a impor medidas mais severas para aqueles que tentem de alguma forma distorcer ou condicionar a informação disponibilizada aos cidadãos através dos media.

A plataforma SOMA (Social Observatory for Disinformation and Social Media Analysis) e o projeto EDMO (European Digital Media Observatory) são financiados pela União Europeia e têm como finalidade a avaliação dos efeitos socioeconómicos a diversos níveis e o desenvolvimento de estratégias e concretização de ações destinadas a aumentar a literacia mediática, e o combate à desinformação, respetivamente. Estas duas iniciativas são respostas claras ao agravamento dos impactos negativos dos media na democracia.

Além destas iniciativas, a União Europeia regulamentou duas leis: a Lei dos Serviços Digitais (DSA) e a Lei dos Mercados Digitais (DMA), sendo que a primeira restringe o poder de mercado de grandes empresas digitais e a segunda garante a transparência da internet.

Em suma, as redes sociais, por mais benéficas que aparentem ser, são um verdadeiro perigo para a democracia. Não obstante as diversas ações europeias para tentar prevenir as consequências que estas repercutem na sociedade, ainda há um longo caminho a percorrer. Tal como afirmou a eurodeputada Marina Kaljurand: as medidas atuais contra a desinformação e discursos de ódio são “insuficientes para combater o ataque à nossa democracia”.

Deixamos aqui o alerta!

Catarina Cordeiro, 11.º I | Miguel Dinis, 11.º D
Escola Secundária de Domingos Sequeira | LEIRIA

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